O partido articula derrubada de vetos feitos pela presidente Dilma Rousseff no projeto que dificulta a fusão de legendas e que podem atrapalhar a adesão de políticos como Marta Suplicy e Alvaro Dias
Para atrair parlamentares descontentes em seus partidos, o PPS e o PSB articulam a derrubada dos vetos da presidente Dilma Rousseff ao projeto de lei que dificulta a fusão de legendas partidárias. Aprovado em março pelo Congresso, a matéria teve dois trechos rejeitados por Dilma. Um previa a criação de uma janela de 30 dias para troca de partidos e o outro que a fusão de duas legendas resultaria em uma nova agremiação partidária. PSB e PPS aprovaram ontem (29) o início do processo para a união entre as siglas.
A sessão do Congresso para analisar os vetos de Dilma Rousseff estava marcada para terça-feira (28). Porém, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), acabou cancelando a reunião por conta da votação, no Senado, do projeto que trata do indexador das dívidas de estados e municípios. Isso dá mais tempo tanto para o governo quanto para oposicionistas articularem suas posições. O Palácio do Planalto, mais uma vez, terá que convencer seu principal aliado, o PMDB, a votar pela manutenção do veto.
Porém, os peemedebistas já anunciaram a disposição de derrubar os vetos de Dilma. Desta forma, cresce a possibilidade de vitória da oposição, pois além do PMDB, outros partidos governistas, como PDT e PTB, também são favoráveis ao texto aprovado no mês passado pelo Congresso. A estes, se somam PSDB, DEM, PSB e PPS, todos oposicionistas e que querem derrotar o Palácio do Planalto na questão. “Vamos trabalhar com toda a força para derrubar este veto”, disse o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quando os vetos foram anunciados.
O PSB é um dos maiores interessados na derrubada dos vetos. O partido avalia a chance de crescer eleitoralmente na onda da crise vivida pelo governo e pelo PT, como opção no campo das esquerdas. O problema dos socialistas é ter ficado órfão da opção eleitoral que tinham, com a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Por isso, a intenção do PSB é abrir-se como desaguadouro de políticos descontentes e com ambições eleitorais, seja para disputar governos estaduais ou até mesmo a Presidência da República. Entre os nomes que podem vir a se filiar, nesse projeto ao PSB, estão ex-petistas como a senadora Marta Suplicy (SP) e também possíveis ex-tucanos, como o senador Alvaro Dias (PR).
Hoje, o PSB tem seis senadores, 34 deputados federais, 45 estaduais, 444 prefeitos, 3969 vereadores e 639 mil filiados ativos, além de três governadores. Já o PPS possui um senador, 11 deputados federais, 23 estaduais, 124 prefeitos, 1862 vereadores e 153 mil filiados.
Descontentes
Neste cenário, derrubar os dois vetos de Dilma Rousseff é vital para que a legenda decorrente da fusão de PPS e PSB consiga atrair políticos descontentes com seus partidos atuais. Um exemplo é a senadora Marta Suplicy (sem partido-SP). Na terça-feira (28), ela anunciou sua desfiliação do PT. Seu provável destino é justamente o PSB. Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB, já dá como certa a entrada de Marta no partido. Inclusive, adiantou que ela poderá ser candidata à prefeitura de São Paulo em 2016.
Mas o próprio Siqueira entende que, para entrar no PSB, Marta terá que passar por uma disputa legal com o PT. Por conta da resolução da fidelidade partidária editada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2007, a agora ex-petista precisa de uma declaração de justa causa da Justiça para não perder o mandato. Existe a expectativa de que a cúpula petista entre no TSE para cassar a senadora paulista. “Se fosse aprovado, Marta não precisaria ficar brigando com o PT na Justiça”, disse o presidente do PPS, Roberto Freire (SP).
Alvos do PSB: Marta Suplicy, Alvaro Dias e Lúcia Vânia
Marta já é um alvo certo do PSB. No entanto, outros políticos hoje isolados em seus partidos também iniciaram conversas com PSB e PPS, demonstrando interesse em entrar na legenda. Segundo Siqueira, a senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), é um desses. A tucana brigou com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e atualmente não tem mais clima para permanecer no PSDB. Outro citado como possível filiado é o também senador Alvaro Dias (PSDB-PR). Apesar de liderar a minoria no Senado, o paranaense perdeu espaço no partido nos últimos anos e poderia ser testado mesmo como possível nome na disputa presidencial na sucessão da presidente Dilma Rousseff em 2018.
Caso os vetos de Dilma sejam mantidos, o PSB talvez tenha que fazer alterações na sua estratégia. Oficialmente, os planos não mudam. “Não, absolutamente”, rejeitou Siqueira ao ser questionado pelo Fato Online sobre a mudança de planos. Nos bastidores, porém, deputados socialistas admitem que a manutenção dos dois vetos pode alterar os planos. No caso, uma fusão seria deixada de lado, mudando para incorporação. Integrantes da cúpula partidária dizem que, pelo tamanho de PSB e PPS, este seria o modelo mais apropriado. “É uma concessão que fazemos ao PPS”, comentou um parlamentar do PSB.
Fonte: fatoonline.com.br