Dificilmente alguém diria que a Arena, partido criado pelos militares para lhes dar apoio e por eles mesmos repudiada após a abertura, poderia ressurgir 32 anos após sua extinção. Pois está. E tem entre seus organizadores pessoas que nem haviam nascido quando ainda vivia. A nova Arena já conta com 150 mil das 500 mil assinaturas necessárias para constituir um partido, conta o vice-presidente da comissão brasiliense, Eurico Rezende C. Burns (foto). No Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás e Rio de Janeiro, a proporção necessária de assinaturas já foi conseguida.
No Distrito Federal existem dificuldades. Eurico Rezende as atribui a dificuldades de coleta “porque redutos da esquerda já estão estabelecidos”. Por enquanto, o número de assinaturas corresponde a algo perto da metade das necessárias para atingir a cota brasiliense. Com poucos filiados, as equipes da nova Arena têm se limitado a colher os apoios em pontos estratégicos, como a Rodoviária do Plano Piloto.
Os organizadores enfrentam um problema a mais. E um problema inesperado. A legislação eleitoral exige que todas as legendas regularizadas tenham o nome de partido. “É íncrível a capacidade de se fazer leis esdrúxulas neste país como esta em que obriga o partido a ter o “P” na sigla”, desabafa Eurico Rezende. Ironicamente, a determinação partiu dos próprios militares, que ainda controlavam o processo. Eles temiam que nas eleições seguintes o então MDB, que catalisava a irritação popular, arrasasse nas urnas. Foi isso que levou os matreiros políticos oposicionistas a transformá-lo no PMDB. Hoje, conta Eurico Rezende, a direção nacional da Arena busca uma fórmula para continuar com a sigla original.
Para Eurico Rezende, a nova Arena tem, sim, conteúdo ideológico nítido. “Temos hoje apenas dois partidos políticos reais e o restante apenas apoiam seus mandos e desmandos. Esses dois partidos têm em sua trajetória, ambos, o social, com o PP hoje unido ao PT e o DEM junto com o PSDB”, diz. Ou seja, dois partido, mas uma só vertente. “Nossa vinda é para mostrar que existe uma ideologia diferente no País”.
Eurico Rezende admite que “certo segmento militar” apoia a recriação da Arena mas assegura que “não existe em nosso estatuto nada que retorne ao autoritarismo, censura ou coisa do tipo”. O nome Arena, conta, “foi escolhido por votação mas não para uma possivel volta do regime militar”. De qualquer forma, ele cita dois parlamentares que foram contactados e que simpatizam com o partido. Romário e, ele mesmo, Jair Bolsonaro.
Fonte: Coluna do alto da torre / Jornal de Brasília