Responsável pelo trabalho de marketing na campanha do prefeito eleito ACM Neto (DEM), o jornalista Pascoal Gomes dá detalhes da maratona que empreendeu para ajudar a eleger o democrata. Garante que a postura que classifica de “agressiva” da presidente Dilma e do ex-presidente Lula contribuiu para a vitória de Neto.
Qual foi a estratégia de marketing para levar ACM Neto à vitória? Ele e o pessoal da cúpula política deram muito “pitaco”?
Foi uma campanha planejada. Na pré-campanha investimos no fortalecimento da imagem de ACM Neto. Criamos, com a equipe política e técnica, um plano de governo – tocado de forma muito competente pelo ex-governador Paulo Souto -, que foi amplamente divulgado. Chegamos na campanha em si fortalecidos e isso se refletiu nos índices de pesquisas. No campo político, ACM Neto uniu em torno de si aliados inéditos, como o PSDB, PPS, PV, e o PTN. Havia um diálogo constante entre o candidato, o seu conselho político e o marketing. Foi ACM Neto quem escolheu Célia Sacramento como sua vice, mas ele dividiu essa escolha numa ampla discussão onde o marketing teve participação junto com o conselho político.
O que na sua opinião anulou os apoios do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff ao candidato do PT Nelson Pelegrino, o desgaste do governo Wagner?
Dilma e Lula estavam desde o começo da campanha de nosso adversário pedindo voto e reforçando a tese do alinhamento. Quando vieram ao vivo para Salvador, foram agressivos com ACM Neto. Inclusive na vinda de Lula, na primeira vez, A TARDE registrou, em manchete, que o ex-presidente usara a tese do medo contra Neto. Enfim, acho que, no palanque, Lula e Dilma acabaram ajudando a ACM Neto e prejudicando Pelegrino.
Você acha que em Salvador houve a repetição do fenômeno que ocorreu em São Paulo, quando um candidato novo, que nunca havia disputado eleição de prefeito, derrotou um veterano? Ou seja, o eleitorado prefere uma cara nova, embora o próprio Neto possa ser considerado um veterano na política apesar da pouca idade?
São casos diferentes. Serra deixou a Prefeitura (de São Paulo) para ser governador. Depois, em vez de tentar se reeleger governador foi disputar a presidência. Perdeu. Abriu dissidência entre os aliados, criando o PSD, e tentou voltar ao começo para disputar a prefeitura novamente. Deu errado. No caso de Salvador, o fato de ACM Neto ser jovem ajudou, mas o decisivo foi o fato de ele representar um projeto novo para a cidade.
Na campanha, Neto recebeu bem mais ataques dos seus adversários do que bateu no primeiro turno. Mas no segundo mudou o tom, e atacou o candidato do Partido dos Trabalhadores. As pesquisas internas determinaram esta mudança?
No primeiro turno, os ataques foram intensos, porque a frequência do adversário era maior. Eles tinham três vezes mais tempo do que nós, sem contar o auxílio de outros candidatos. Para completar, alguns membros da Justiça Eleitoral nos tiraram do ar em vários momentos decisivos, de forma surpreendente, revertendo o nosso tempo para o adversário. Apanhamos amarrados. No segundo turno, com tempos iguais e Justiça equilibrada, pudemos fazer o confronto e mostrar quem era quem.
ACM Neto aparentemente se saiu melhor que os adversários nos debates. Houve algum tipo de orientação dada a ele para enfrentar esses embates?
Discussão da estratégia e treinamentos intensos, gravados. O treino era muito mais pesado que o jogo. Quando era para valer, ele estava muito bem preparado. Mas, além de ser disciplinado, ele aprendeu a dominar o veículo, adequar o discurso e ter noção de tempo de televisão.
Você trabalhou na campanha de Neto em 2008, quando ele nem foi para o segundo turno. Quais as diferenças daquela campanha para esta?Em 2008, havia quatro candidaturas fortes, Imbassahy, Neto, João e Pinheiro. Sendo que Neto e Imbassahy disputavam o mesmo eleitorado. Isso acabou sendo prejudicial. Desta vez, o PSDB foi aliado de primeira hora e o PMDB veio no segundo turno, mesmo com o candidato do partido indo para o outro lado. Em 2012, tivemos uma candidatura muito mais forte. Mas em 2008, foi a clássica história do “perdeu ganhando”. Acho que ali, ficou claro que um dia ACM Neto ocuparia um cargo no Executivo.
Quais os ataques mais difíceis de enfrentar? Foi o vídeo da surra em Lula, o “eu digo sim a João” ou a acusação de que o candidato do DEM era contra a política de cotas raciais?
As cotas raciais. Mesmo sendo uma inverdade em relação ao nosso candidato, ela trazia embutida a tese boçal, que roçava com o totalitarismo, de que a cidade estava dividida entre ricos e pobres, negros e brancos.
Afinal, o apoio do prefeito João Henrique seria um ponto negativo para a campanha na visão do marketing?
O partido do prefeito, o PP, ficou com o candidato do PT. Era de se esperar que, pelo menos, alguém do PP na campanha de Pelegrino defendesse João. Ao contrário, tentaram colar João a Neto, quando havia um passivo pesadíssimo do PT e aliados, principalmente, na primeira administração de JH. Negar o passado foi ruim para o adversário.
ACM Neto fez muitas promessas na campanha. Isso não é um risco para a própria carreira política dele caso não consiga tirar essas promessas do papel?
Ele fez um programa de governo bem cuidadoso, com a preocupação de só prometer o que seria viável.
No primeiro turno, Neto teve votação menor nos bairros periféricos, mas isso mudou no segundo turno. Como a campanha conseguiu mudar esse quadro?
Com o trabalho intenso nos bairros onde não fomos bem. O resultado favorável foi consequência do corpo a corpo do candidato e dos militantes de todos os partidos que apoiavam Neto. Na televisão e no rádio com mais tempo, falamos mais das propostas para toda a cidade, mas principalmente para os bairros periféricos.
Fale um pouco da experiência de mudar da função de jornalista para a de marqueteiro. São duas coisas completamente distintas ou vê semelhanças?
Acho que o marketing teve importância na campanha de ACM Neto, porque formamos uma equipe de profissionais talentosos e, acima de tudo, comprometidos com o trabalho. Fica aqui a minha homenagem a todos eles. O jornalismo ensina a lidar com as pessoas. Sem isso, você não chega na redação com uma reportagem que possa ir para a primeira página, subir para o site, ou ganhar a escalada do telejornal, ou no rádio. Então essa vivência no jornalismo ajuda nisso que chamam de marketing político. O jornalismo lida com gente, com o povo. E não tem quem mais goste de eleição do que o povo.
Fonte: Portal A Tarde