Estudiosos criticam limitação do TSE às pesquisas eleitorais: ‘empobrece debate político’

xtse-fux-rosa-moraes.jpg.pagespeed.ic.SgZd3oBH7NA limitação imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às pesquisas de intenção de voto devem empobrecer o debate politico durante o período de campanha neste ano. Para cientistas políticos e especialistas em marketing eleitoral, a resolução do órgão de proibir perguntas que não sejam relacionadas diretamente à eleição impede entender como se comporta e o que pensa o eleitor diante de temas considerados essenciais na hora de decisão do voto. Segundo eles, o texto assinado pelo ministro Luiz Fux, presidente do TSE, e publicado na segunda-feira no Diário Oficial, não é claro e deixa margem para interpretação subjetiva.

A partir da decisão do TSE, por exemplo, questionamentos sobre o posicionamento do eleitorado sobre segurança pública, aborto, liberação da maconha, previdência social, reforma trabalhista e porte de arma, incluídos em pesquisas eleitores em anos anteriores, tendem a ficar de fora neste pleito. Sondagens sobre o que pensa o eleitorado sobre intervenção militar no Rio de Janeiro, políticos envolvidos em denúncias de corrupção e até mesmo a possível prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também podem ser barradas.

Sem informações como essas, a tendência é que as pesquisas eleitorais se esvaziem, análises percam a qualidade e o eleitor receba menos informações para decidir seu voto. De acordo com Victor Trujillo, professor de marketing e pesquisa eleitoral da ESPM, as sondagens não terão mais recursos para cruzar dados que permitem entender o perfil do eleitor de cada candidato.

— A tendência é que as pesquisas divulgadas passem a abordar apenas intenções de votos, e informações importantes que devem ser debatidas para que eleitor decida seu voto fiquem de fora. A resolução do TSE cerceia o trabalho dos institutos de pesquisa e da imprensa — diz Trujillo.

Professor de marketing digital e político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Miceli, considera a nova regra um “dano” para as campanhas.

— O debate político ficará empobrecido. As pesquisas darão menos elementos para a campanha acontecer e menos informações sobre o posicionamento do público em assuntos fundamentais para a sociedade. É um retrocesso. A campanha passará a se basear em achismos — opina Miceli.

Partidos e coordenação de campanhas, no entanto, poderão continuar fazendo pesquisas eleitorais para consumo interno para guiar suas estratégias. Como não serão divulgadas, não precisam ser registradas no TSE e, portanto, estão livres de respeitar as regras.

Cientista político da Universidade de São Paulo (USP), José Álvaro Moisés alerta que, ao mesmo tempo em que a decisão do TSE “tira informação do eleitor”, deixa o processo eleitoral menos transparente. Segundo ele, análises importantes ficarão restritas aos círculos políticos que poderão manipulá-los como quiserem em suas estratégias de campanha.

— Pesquisa eleitoral não é só intenção de voto. Ao tirar do eleitor a chance de uma análise qualitativa, o processo fica menos transparente e mais manipulável, uma vez que os círculos políticos continuarão a ter acesso às pesquisas com as perguntas que considerarem pertinentes sobre o posicionamento do eleitor— pontua.

Outra crítica feita pelos analistas políticos é que o texto da resolução do TSE não é clara sobre o que é considerado tema relacionado ao pleito e o que não é. A subjetividade da redação deixa aberto precedentes para a contestação de pesquisas eleitorais.

— O texto é dúbio e deixa margem para interpretação e questionamentos. Nenhum instituto vai querer arriscar perguntas que possam ser contestadas e ter a pesquisa impugnada _ observa Victor Trujillo, da ESPM. — Essa resolução é um desserviço para a democracia — complementa.

Para o cientista político da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a resolução do TSE é mais um caso da judicialização da política.

— Essa resolução é antidemocrática porque interfere na liberdade de informação. São perguntas legítimas que poderiam ser feitas pelo instituto de pesquisa — diz o cientista político da PUC-SP, Pedro Fassoni Arruda. — É mais um caso da interferência poder judiciário em assuntos estritamente político.

Fonte: O Globo

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