Fazer declarações “infelizes”

Todos erram em algum momento. Mas algumas frases costumam ser letais para a campanha do candidato.

É humano. Todos fazem em algum momento. A maioria delas não chama muita atenção, é logo esquecida, e não causa maior prejuízo. Algumas entretanto são letais. Acompanham o candidato como uma sombra pelo resto de sua carreira política.

Kennedy preparou um comercial contra Nixon, usando infeliz declaração de Eisenhower

Há vários tipos de declarações infelizes. As mais comuns são aquelas feitas por parentes do candidato, por seus aliados políticos, e, a pior, pelo próprio.

Em 1960 Kennedy preparou um comercial contra Nixon, usando uma declaração infeliz do Presidente Eisenhower. Nixon tentava provar sua maior experiência, por ter sido vice-presidente por 8 anos. Era uma linha forte de argumentação, uma vez que Kennedy, como senador, não tinha um retrospecto nesta área que se comparasse ao de Nixon.

O comercial de Kennedy reproduzia a gravação de uma entrevista com Eisenhower, em que este, perguntado sobre quais tinham sido as questões sobre as quais Nixon havia tido alguma influência, respondia: “Se você me der uma semana, talvez eu consiga pensar em alguma”.

Uma declaração infeliz do Presidente, feita num outro momento sem relação com a campanha eleitoral, no qual provavelmente tentava fazer uma pilhéria, foi usada pelo adversário para abalar a argumentação de Nixon sobre sua experiência, e ridicularizá-lo.

Familiares também contribuem com sua quota de declarações infelizes. Pouco habituados com a dinâmica pública de uma campanha e com a malícia dos jornalistas, quando não preparados antecipadamente para os riscos, cometem imprudências fazendo revelações, tornando públicas inconfidências ou fatos da intimidade, que podem ser utilizadas pelos adversários.

Mas ninguém é mais pródigo em fazer declarações infelizes do que os próprios candidatos. Cansaço, oscilações de humor, vaidade, desejo de aparecer espirituoso e inteligente, são fatores que usualmente antecedem aquelas declarações.

Declarações infelizes então, vamos considerar primordialmente aquelas pronunciadas pelo próprio candidato.

Porque caracterizamos como “infelizes” ?

Porque agridem a algum segmento do eleitorado;
Porque eram absolutamente desnecessárias;
Porque são formatadas em “frases de efeito”;
Porque ficam associadas ao candidato;
Porque nunca são totalmente esquecidas pelos eleitores;
Porque provocam importantes perdas eleitorais.

Paulo Maluf é outro político que vem sendo perseguido a várias eleições pela declaração “estupra mas não mata” que, como ele mesmo já explicou, foi feita num momento em que se encontrava extremamente cansado, e sem a intenção que seus adversários lhe imputam, quando usam a frase contra ele.

Se o candidato estiver cansado e de mau humor está propenso a fazer declarações infelizes

Maluf já foi levado a também gastar programas, ao lado de sua família, para explicar o que quis dizer, quando usou aquela expressão. O problema está no fato de que as explicações produzem menos impacto no eleitor do que a frase pronunciada.

Só o fato de ter que se explicar já é ruim, ter que se explicar em matérias desta natureza é muito pior, ainda mais quando a explicação é feita num período eleitoral, em que o eleitor sempre fica desconfiado se a explicação é autêntica, ou apenas motivada pelo interesse eleitoral.

O candidato deve então adotar como regra evitar fazer este tipo de declaração sempre que estiver naquelas condições acima enumeradas: cansado, de mau humor, excessivamente eufórico,ou qualquer outra condição psicologicamente desfavorável. Nestas situações é preferível não falar, ou não falar naquele momento, ou conversar com sua assessoria o que está pensando falar, para evitar o tropeço.

Também deve adotar a cautela no uso de frases de efeito. É sempre preferível testá-las com seus assessores antes de usá-las, sobretudo aquelas mais “atraentes” de dizer, pelo seu conteúdo espirituoso, pela sua originalidade.

Não há dúvida de que se forem desta natureza serão citadas na mídia, e com destaque. Mas uma vez aparecendo na mídia, por suas próprias características, serão difundidas no eleitorado com uma velocidade incrível.

Cria-se desta forma uma frase que será “companheira” do candidato pelo resto de sua carreira, com destaque especial para as eleições que concorrer. E, no final das contas, pensando-se bem, elas eram totalmente desnecessárias para os argumentos da candidatura.

Em suma, o ônus político que implicam não resultou em nenhum benefício ao candidato.

Fonte: Política para Políticos

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