Ibaneis joga com o tempo e embaralha o tabuleiro político do DF

Por Sandro Gianelli

Governador antecipa pré-candidatura ao Senado e deve abrir caminho para a vice Celina Leão assumir o comando do Palácio do Buriti

A antecipação da pré-candidatura de Ibaneis Rocha ao Senado Federal, anunciada em abril de 2025, não é apenas um movimento calculado. É, sobretudo, uma jogada estratégica com efeitos diretos e imediatos sobre o cenário político do Distrito Federal. Ao se lançar com um ano e meio de antecedência, o atual governador põe em prática uma articulação que conjuga força eleitoral, previsibilidade institucional e ocupação do espaço político.

Ibaneis já deixou claro que, para disputar o Senado, renunciará ao governo em abril de 2026, como determina a legislação eleitoral. Isso significa que Celina Leão, a atual vice-governadora, será efetivada no cargo e, concorrerá à reeleição com a máquina administrativa nas mãos. A decisão antecipa um redesenho político na capital federal, turbinado por uma aprovação de governo que alcança 62%, segundo o Instituto Paraná Pesquisas.

Ao anunciar a pré-candidatura tão cedo, Ibaneis foge do modelo tradicional de indefinição até o limite do prazo legal. Ele se posiciona à frente de eventuais concorrentes, ganha fôlego para construir alianças e costura apoios com maior tranquilidade. Além disso, passa a ocupar o debate público como nome certo ao Senado, dificultando que adversários consigam estruturar campanhas competitivas no mesmo ritmo.

Esse movimento também impõe desafios aos que ainda hesitam em confirmar suas candidaturas. Políticos que planejavam disputar uma vaga ao Senado pelo DF terão menos tempo de exposição e articulação — o que, em termos eleitorais, pode ser fatal. Ibaneis, ao contrário, tem agora o tempo como seu aliado mais valioso.

Reeleito em 2022 já no primeiro turno e eleito pela primeira vez em 2018 com 70% dos votos, Ibaneis chega ao fim de seu segundo mandato com uma base sólida de aprovação. A popularidade se sustenta em entregas administrativas e na percepção de continuidade política. Em um cenário sem escândalos e com o prestígio em alta, ele se credencia como um candidato competitivo à vaga no Senado.

Historicamente, o eleitor do Distrito Federal não tem dado carta branca a ex-governadores após o fim de seus mandatos. Agnelo Queiroz e Rodrigo Rollemberg não voltaram ao centro do poder. José Roberto Arruda, apesar da força política, ainda enfrenta restrições judiciais. Apenas dois ex-governadores conseguiram se eleger senadores: Cristovam Buarque e Joaquim Roriz — este último, o maior nome da política brasiliense por décadas. Ibaneis quer se juntar a esse seleto grupo.

A equação política de Ibaneis envolve ainda outra variável decisiva: Celina Leão. Como governadora em exercício a partir de abril do próximo ano, ela terá os holofotes do poder e a vitrine de quem comanda a capital federal. Com isso, ganha musculatura política para disputar a reeleição.

A aposta de Ibaneis é que sua popularidade e seu grupo político consigam transferir capital eleitoral à sua sucessora. Se Celina conseguir manter a governabilidade e demonstrar competência administrativa durante os meses em que estiver à frente do Buriti, a engrenagem política montada por Ibaneis poderá funcionar perfeitamente: ele no Senado e sua aliada consolidada no Executivo.

Ibaneis dá sinais de que prefere agir sobre o previsível do que esperar surpresas do imprevisível. Nesse tabuleiro de xadrez que é a política do DF, o governador faz o primeiro movimento com maestria, obriga os adversários a jogar fora da zona de conforto e coloca sua candidatura ao Senado como um fato consumado a ser enfrentado — e não mais uma possibilidade a ser debatida.

Com tempo, estrutura e popularidade, Ibaneis Rocha larga na frente.

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