Idoso na UPA de Samambaia, no DF, tem superbactéria KPC, diz prontuário

prontuario_kpcTV Globo recebeu cópia; GDF diz que ‘não comenta supostos novos casos’. Desde maio, sete pacientes morreram; novo secretário assumiu nesta quinta.

Prontuário médico registrado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia, no Distrito Federal, indica que um homem de 77 anos está infectado com a superbactéria KPC. O documento enviado à TV Globo nesta quinta-feira (23) mostra que o paciente está internado desde a última terça (21). A Secretaria de Saúde diz que “não comenta sobre supostos novos casos”.

A anotação feita por um enfermeiro se refere a um exame de urina e indica “crescimento de Enterobacter aerogenes possível produtora de carbapenemase do tipo KPC”. O texto também orienta “cuidados redobrados com o isolamento por contato”.

Em outro relatório, feito horas antes, o quadro clínico do paciente é descrito como “gravíssimo”. O idoso apresentava choque séptico, broncopneumonia, úlcera infectada, baixa de potássio (hipocalemia) e estava submetido a uma traqueotomia, segundo o prontuário.

A Secretaria de Saúde diz que a situação no DF está “sob controle” e que “não há um surto”. A nota não confirma nem nega o caso na UPA de Samambaia.

Desde maio, sete pacientes que estavam infectados com bactérias multirresistentes – conhecidas popularmente como superbactérias – morreram em unidades de saúde da rede pública.

A nota da secretaria diz que pacientes infectados com essas bactérias não precisam ser isolados em sala específica, mas ficam em “precaução de contato”. Isso significa que os profissionais e acompanhantes que interagem com aquela pessoa precisam usar equipamentos individuais de proteção.

Segundo a secretaria, o plano de enfrentamento às superbactérias lançado em junho já foi implantado nos hospitais e nas UPAs e há um “controle rigoroso” da área de infectologia da rede pública.

Nova gestão
O novo secretário de Saúde, Fábio Gondim, assumiu o cargo nesta quinta. Gestor da pasta até esta quarta (22), João Batista de Sousa foi gravado em uma reunião ao dizer que havia superbactérias em mais sete hospitais do DF, incluindo quatro particulares

“Essa situação ela é uma farsa, não existe esse negócio de KPC, crise de KPC aqui. KPC aqui está igual está no mundo inteiro”, afirma Sousa no áudio. Segundo a secretaria, a fala é respaldada por um relatório da Agência Nacional de Vigilândia Sanitária (Anvisa). Sousa não quis comentar o conteúdo da gravação.

O ex-secretário de Saúde João Batista de Sousa ao lado do governador Rodrigo Rollemberg e do novo titular da pasta, Fábio Gondim, durante transmissão do cargo nesta quinta (Foto: Raquel Morais/G1)O ex-secretário de Saúde João Batista de Sousa ao lado do governador Rodrigo Rollemberg e do novo titular da pasta, Fábio Gondim, durante transmissão do cargo nesta quinta (Foto: Raquel Morais/G1)

Hospitais em alerta
Desde o dia 28 de maio, vieram à tona infecções por bactérias multirresistentes – conhecidas popularmente como “superbactérias” – em sete unidades de saúde do DF. No início de junho, a Secretaria de Saúde informou que 16 pacientes estavam isolados no Hospital Regional de Santa Maria com a bactéria multirresistente Acinetobacter baumannii. Destes, 14 estavam apenas colonizados, ou seja, não apresentavam contágio no sangue.

O Acinetobacter baumannii superresistente também atacou pacientes no Hospital Regional do Guará. Em Taguatinga, as alas vermelha e amarela do pronto-socorro foram interditadas entre os dias 28 de maio e 2 de junho, após a identificação de um foco de enterococo multirresistente na área. No total, 25 pacientes foram isolados com quadros de contaminação ou colonização pela bactéria.

Em três dias, 4 dos 25 pacientes morreram na unidade, mas a secretaria afirmou que não era possível estabelecer relação entre as mortes e as bactérias.

A quinta morte aconteceu no dia 26 de junho. A paciente de 83 anos estava internada no Hospital Regional de Sobradinho com contaminação pela superbactéria KPC. A Secretaria de Saúde disse que também não é possível atribuir a causa da morte à contaminação.

Arte superbatéria KPC (Foto: Editoria de Arte/G1)

Resistência
“Superbactéria” é um termo que vale não só para um organismo, mas para bactérias que desenvolvem resistência a grande parte dos antibióticos. Enzimas passam a ser produzidas pelas bactérias devido a mutações genéticas ao longo do tempo, que tornam grupos de bactérias comuns como a Klebsiella e a Escherichia, resistentes a muitos medicamentos.

Outro mecanismo para desenvolvimento de superbactérias é a transmissão por plasmídeos – fragmentos do DNA que podem ser passados de bactéria a bactéria, mesmo entre espécies diferentes. Uma Klebsiella pode passar a uma Pseudomonas, e esta pode passar a uma terceira. Se o gene estiver incorporado no plasmídeo, ele pode passar de uma bactéria a outra sem a necessidade de reprodução.

No território nacional circulam outras bactérias multirresistentes, como a SPM-1 (São Paulo metalo-beta-lactamase). Entre os remédios ineficazes estão as carbapenemas, uma das principais opções no combate aos organismos unicelulares. Remédios como as polimixinas e tigeciclinas ainda são eficientes contra esses organismos, mas são usados somente em casos de emergência, como infecções hospitalares.

KPC
Em outubro do ano passado, a Secretaria de Saúde isolou a UTI neonatal do Hospital Materno Infantil depois que exames feitos em três bebês apontaram a presença da superbactéria KPC. De acordo com a pasta, o diagnóstico não significava que eles desenvolveriam infecção, mas a medida havia sido adotada para evitar uma eventual propagação do micro-organismo.

Em 2010, casos notificados de pessoas infectadas pela KPC levaram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a instituir normas de combate à bactéria. Entre as medidas anunciadas estava a instalação de dispensadores de álcool em gel em todos os ambientes de atendimento nos hospitais e clínicas públicas e particulares.

Em 2009, de 1º de janeiro até o dia 15 de outubro, 18 pacientes morreram por conta da KPC no DF. No mesmo período, foram registradas 183 pessoas portadoras da bactéria, das quais 46 tiveram infecção. A Secretaria de Saúde não informou o número total de casos desde então.

A KPC já foi identificada em Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Goiás e Santa Catarina. Ela faz parte da flora intestinal das pessoas e pode ser transmitida por meio do contato. As complicações costumam ocorrer somente em casos de pacientes com baixa imunidade, como os que estão com câncer em estágio avançado ou passaram por transplantes.

Fonte: G1

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