Mais importante que começar bem é terminar bem

O político deve dedicar mais atenção para uma saída exitosa do que para uma entrada sob aplausos

Na vida como na política, começar bem é fácil, difícil é terminar bem. Neste aspecto, o senso de “timing” é uma das maiores provas de sabedoria política. Fala-se em senso de timing porque terminar bem supõe que o ato de encerramento seja uma iniciativa sua.

É você quem decide quando e como terminar, com todos os riscos envolvidos numa decisão que sempre estará cercada de dúvidas e incertezas. Se a iniciativa escapar ao seu controle, você terá perdido o melhor momento para terminar, passando um atestado de sua falta de sensibilidade, oportunidade e lucidez.

O que importa não é ser aplaudido quando se entra, mas sim fazer com que sua falta seja sentida quando você sai

Começar bem é muito mais fácil. Você ainda não é conhecido, as pessoas ficam curiosas e você pode apresentar-se a elas sob a sua melhor luz. Além disso, você é a novidade e, como toda novidade, é notícia, atração e corteja o sentimento dos outros de transformar o que é desconhecido em familiar. Mais ainda, ao começar você não é julgado e comparado a partir de expectativas que você precisa corresponder. É você mesmo quem vai, aos poucos, criando-as e definindo-as, numa atitude que, se for sensata, será realizada tendo em vista sua capacidade de realização.

Por fim, quem começa cria nos demais uma disposição para a ajuda. As pessoas sentem-se seguras numa situação com a qual estão familiarizados e têm satisfação em “ensinar”, “orientar”, “advertir” e “aconselhar”. Todo começo – a menos que o indivíduo se revele um completo desastrado – é relativamente simples, sem grandes riscos e conta com poderosos sentimentos favoráveis nos outros. Tais observações valem para a vida pessoal – afetiva e profissional – e a política.

Na política, entretanto, a advertência recai sobre o ato de terminar e não o de começar. O espanhol Baltasar Gracián já pregava: “Seja cuidadoso com a forma como você termina as coisas, e dedique muito mais atenção a uma saída exitosa do que a uma entrada sob aplausos. O que importa não é ser aplaudido quando se entra – pois isso é comum – e, sim, fazer com que sua falta seja sentida quando você sai”

Muito raras são aquelas pessoas cuja falta é sentida depois que vão embora. A sorte quase nunca acompanha quem sai até a porta de saída. Ela é cortês para com os que chegam e costuma ser rude com os que estão indo… Não espere, pois, para ser como um sol que se põe. As pessoas prudentes abandonam as coisas e os outros, antes de serem por eles abandonados. Não espere para ver as pessoas voltarem as costas para você – as mesmas que até há pouco o adulavam. Elas vão enterrá-lo vivo. O político sábio e prudente reconhece quando deve abandonar a corrida, em vez de continuar e cair na raia, em meio ao riso de todos.
Sol poente

Na natureza, na vida privada e na política tudo está sujeito ao processo de nascimento, crescimento, auge e declínio. As plantas, nosso corpo, o poder, tudo está submetido a esta regra incontornável. Procure saber com segurança quando as coisas estão maduras, mas ainda não entraram em decadência, e como tirar partido delas. Nestes momentos é que devem ocorrer as mudanças, tomadas por sua iniciativa, e a partir de uma posição de força, quando você ainda tem o poder de escolher. São os momentos nos quais se muda de posição sem sair do jogo.

Retirada estratégica: é você quem deve tomar a iniciativa de encerrar um ciclo da sua vida

Há coisas que você fazia bem antes, mas que agora já não fará tão bem, ou não está mais disposto a pagar o preço para fazê-las. Haverá outras que você hoje pode realizar melhor que antes. Mudando para uma posição mais compatível com sua situação você se renova, continua no jogo e mantém a sua relevância e utilidade. Você dá início a um novo ciclo. Entender o momento de mudar de posição exige sensibilidade, senso crítico, timing e coragem. Normalmente o momento de mudar é antecipado por avisos que você deverá saber decodificar. Não se adiante, mas, acima de tudo, não deixe que a ocasião passe.

A maturidade da situação política conquistada pode durar um bom tempo, mas jamais planeje mantê-la para sempre. O que se segue a ela é a decadência, a perda de poder e de importância. É o sol poente. Nunca espere até este momento para tentar mudar de posição. Será tarde demais. Ao contrário, faça como o sol em pleno brilho, quando ele sorrateiramente se esconde por trás de nuvens, dando a impressão de que se foi, para retornar depois em outra posição no céu, mas com brilho e calor. Este retorno pode ser por iniciativa própria ou por convocação dos outros. Mas só pode haver uma nova convocação se você, estrategicamente, se afastou.

São muitas as saídas, portanto, ao longo de uma carreira. Saídas para outras posições de jogo, que garantam sua permanência nele, até a despedida final, quando você ainda deverá possuir alguma “folga”, que garanta o poder de fazer com que sua saída seja sentida.

Fonte: Política para Políticos

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