Estar presente e fazer-se ausente são procedimentos adotados no dia a dia de nossas vidas, tanto na esfera familiar, social, afetiva, profissional, e também, como é óbvio, na política. Qualquer um de nós já se lamentou por estar ausente numa oportunidade em que deveria ter estado presente, assim como, se arrependeu de estar presente numa ocasião em que melhor teria sido não ir.
A presença do político obedece às leis do circo: o público é que troca, não o número do artista
A decisão de estar presente ou fazer-se ausente, pode provar ter sido uma escolha acertada ou errada. Em qualquer hipótese sabe-se “a posteriori”. É, portanto, uma decisão que sempre tem conseqüências. Estas observações valem para todas as situações antes citadas.
Numa relação afetiva, de conquista e sedução, fazer sentir a sua ausência às vezes é incomparavelmente mais eficiente do que estar mais uma vez presente. No mundo da política ainda que estar presente seja a regra, “administrar ausências”.
O político adquire uma profunda convicção de que precisa estar sempre ocupando espaços, sob pena de um adversário vir a ocupá-los em seu lugar. Por isso, busca sempre estar presente às ocasiões que se lhe oferecem.
Também o fato de ser uma autoridade pública, (ou pretender sê-lo) concorre para aumentar esta convicção da necessidade de estar presente, sempre que possível. Afinal, uma autoridade pública somente “sente-se autoridade” em público. Além disso, sua presença é sempre requisitada, ou, pelo menos, esperada.
Não é errada esta percepção do político. A questão da visibilidade, e, como é óbvio, da presença, precisam ser encaradas de uma maneira mais cuidadosa.
A presença do político, e a visibilidade que ele deve desejar, obedecem a uma das leis do Circo :
“O artista não muda o seu número, ele muda é o público” .
É por esta razão que o circo é sempre itinerante, fazendo temporadas curtas em cada cidade que se instala. Enquanto o político estiver mudando seu público, então, não há restrição nenhuma a se fazer presente e produzir a sua visibilidade. Os problemas relativos à presença/ausência, ocorrem quando o público é o mesmo.
Nestas situações, chega um momento em que de maneira inevitável, o excesso de presença produz o efeito contrário: quanto mais você é visto e comentado, mais o seu valor se degrada. Você se transforma num hábito, numa certeza, numa óbvia presença.
Você torna-se totalmente previsível. Para quem o percebe desta forma, você passa a ser menos importante, fica no limite da banalidade, e deixa de ser uma atração: alguém cuja atenção agrega importância aqueles a quem ela se destina. Demasiada exposição (às mesmas pessoas) reduz o valor da pessoa, torna-a comum, estimula a familiaridade e cria oportunidade para a ocorrência de situações inconvenientes. Nesta situação, não importa o quanto você tenta mostrar-se diferente e “variar o seu número”. Não adianta, você já foi decodificado. De maneira silenciosa e sutil, sem que você perceba a razão, as pessoas o respeitam cada vez menos. Cada vez menos lhe dão a atenção que você estava acostumado a receber.
Ás vezes o político até tenta variar o seu número, mas já foi decodificado pelo eleitorado
O fato é que, removidos o mistério e a imprevisibilidade, substituídos pela facilidade de acesso, perde-se o respeito, a autoridade, e a estima. Trata-se de uma dinâmica cruel. As pessoas, diante de uma autoridade, buscam de todas as formas dela se aproximar, com ela conviver, chegar a conhecê-la, e, se possível, tornarem se íntimas.
Da parte da autoridade, sobretudo numa democracia, onde a posição é obtida pelo voto, o impulso é ceder a esta solicitação. Afinal, assim se conquistam os apoios e o entusiasmo dos eleitores. Na realidade não funciona assim. Há em curso, e de forma imperceptível, uma dinâmica antropofágica.
Na medida em que você se permite ser tratado como os outros, tornar-se familiar e próximo, você está sendo “engolido e digerido”. Uma vez “digerido” você não é mais necessário, não tem mais atrativos.
Faça que sua ausência seja sentida
Para evitar esta dinâmica, você precisa aprender a administrar as suas ausências, para valorizar-se, proteger seu “mistério”, manter a distância e o respeito, necessários à preservação da sua capacidade de surpreender. Você precisa se persuadir de que será necessário controlar aquele impulso de proximidade, e fazer com que as pessoas sintam a sua ausência. É necessário que elas tenham sempre “fome” da sua presença.
Imponha o seu respeito, também, pela sutil ameaça de que podem perdê-lo. Por vezes, uma calculada e completa ausência por algum tempo maior, pode ter um grande efeito, que somente se percebe na devida medida, quando se reaparece.
Não esqueça que,muito mais importante do que sua presença ser percebida, é a sua ausência não ser sentida. Por estas razões administre, com inteligência e sutileza, o seu padrão de presenças e ausências. Nada é pior para um político do que o sentimento de que sua imagem está “gasta”, que sua presença já não chama mais atenção, que o tempo já passou e que já devia ter dado seu lugar a outros.
Evite ter este sentimento, e, acima de tudo, evite que os outros venham a ter este sentimento, a todo o custo. Fazer com que sua ausência seja sentida é o melhor remédio para evitá-lo.
Fonte: Política para Políticos