Apesar de o governo ter conseguido ultrapassar o primeiro obstáculo para a aprovação do pacote de ajuste fiscal, a coordenação política resolveu não arriscar para a próxima semana e está disposta a endurecer o jogo. A intenção do Palácio do Planalto é enquadrar os dissidentes. Nessa tarefa, cabe até intensificar as ameaças. O eufemismo utilizado pelo governo na conversa com os aliados é de que a infidelidade pode acarretar uma “reavaliação” da participação do partido nos escalões principais do governo. Essa “reavaliação” já poderia atingir os que foram contrários à aprovação da MP 665, que restringe o acesso a direitos trabalhistas como o seguro-desemprego e o abono salarial.
Se para o PDT a ameaça é mais concreta pelo fechamento de questão contra a MP, o peso do tacão governista pode atingir também parlamentares de outros partidos. Mesmo nos principais partidos da coalizão governista, como PT e PMDB, a adesão não foi completa. Da bancada de 64 petistas, 55 apareceram para votar nos dois dias de discussão da MP 665. Destes, um acompanhou a oposição em todas as votações: Welinton Prado (MG). Outros nove não apareceram para votar, o que fez o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizer que o PT “entregou apenas 80%” do prometido.
O PMDB teve dissidência parecida. Dos 67 deputados da bancada na Câmara, três faltaram e outros 12 votaram contra a orientação da liderança governista na Câmara. Para o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), essa falta de hegemonia não é um problema. E o governo também não deveria considerar assim. Mas, ao contrário, aceitar uma negociação menos partidária e mais pessoal com os parlamentares. Se o governo endurecer a negociação, acredita ele, o tiro poderá acabar saindo pela culatra. “A votação expôs as divergências na base aliada, a necessidade do processo decisório não ser tão hegemônico. Fazendo desta forma [negociada] já foi muito difícil chegar a este resultado, imagina da forma hegemônica”, avaliou o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ).
Descida do muro
Na terça-feira (5), o PMDB chegou a ameaçar votar contra o ajuste fiscal quando percebeu que o próprio PT tinha dificuldades com a medida provisória. Picciani discursou na tribuna cobrando uma postura mais veemente dos petistas a favor do ajuste fiscal. O PMDB só arrefeceu depois que o líder do PT, Sibá Machado (AC), divulgou nota assegurando o apoio integral do partido às MPs do ajuste. “A descida do PT do muro ajudou a gente a vencer a votação”, disse Picciani.
No entanto, a maior preocupação está no PDT. O partido fechou questão para derrubar as duas medidas provisórias que fazem parte do ajuste fiscal. Sua bancada votou inteira contra o mérito da MP 665 e pretende fazer o mesmo com a Medida Provisória 664. A segunda MP do ajuste pode ser ainda mais delicada, porque mexe em regras para pagamento de pensões, como, por exemplo, a pensão por morte. “Nós somos contra o projeto, no mérito, porque ele tira direitos dos trabalhadores, especialmente dos mais pobres. O PDT não tem como compactuar com esse tipo de corte dos benefícios dos trabalhadores”, disse o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS).
“A bancada do PDT teve uma posição extremada. Não é possível um partido da base subir à tribuna e criticar os outros partidos”José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara
A posição do partido gerou reações no Palácio do Planalto. Nos bastidores, existe a ameaça de retaliações com demissão de servidores alocados no primeiro e segundo escalões do governo. Os pedetistas comandam o Ministério do Trabalho e ainda possuem cargos em outras áreas. “A bancada do PDT teve uma posição extremada, caberá ao governo avaliar [o que fazer]. Não é possivel um partido da base subir à tribuna e criticar os outros partidos”, disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
Nos discursos, os pedetistas não temem retaliações e perda de cargos. O líder do partido, André Figueiredo (CE), exortou a memória do ex-governador Leonel Brizola para defender a posição de tentar derrubar as medidas provisórias. “O PDT não se vende, o PDT não se rende por cargos. Se quiserem que sejam entregues quaisquer funções que nós ocupamos na Esplanada dos Ministérios, entregaremos de bom grado. Mas por conta de trair nossos princípios, nunca”, disparou.
Fonte: Fato Online