Categoria quer reajuste salarial de 20%; empresas oferecem 8,34%.
Greve afeta 1 milhão de passageiros; sistema tem 12 mil rodoviários.
Rodoviários do Distrito Federal entram nesta terça-feira (9) no segundo dia de greve em protesto por 20% de reajuste salarial e 30% no tíquete refeição e plano de saúde familiar. As empresas oferecem 8,34% de reajuste nos salários com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
A paralisação afeta 1 milhão de passageiros em todas as regiões do DF. O sistema de transporte da capital conta com 12 mil rodoviários. O Tribunal Regional do Trabalho havia determinado que 70% dos ônibus circulassem em horário de pico e 50% no entrepico, mas a ordem não foi cumprida no primeiro dia de greve.
A opção é contrária à indicação do sindicato da categoria, que pediu aos rodoviários que cumprissem a decisão provisória do TRT. A multa diária por descumprimento da decisão é de R$ 100 mil. Os horários de pico vão de 5h às 9h30, das 11h às 13h e das 15h às 19h30.
Nesta segunda (8), o vice-presidente do sindicato dos rodoviários, Jorge Farias, afirmou que iria cumprir a determinação da Justiça e que iria recorrer da decisão para tentar cassar a liminar. O salário de um motorista de ônibus é R$ 1.928 e o de um cobrador, R$ 1.008. As negociações com as empresas começaram em abril.
A última paralisação com grande adesão feita pela categoria ocorreu no dia 27 de maio, entre 11h e 15h. Os rodoviários afirmam aceitar renegociar o valor pretendido de reajuste, desde que o governo participe da discussão. O secretário de Mobilidade, Carlos Tomé, afirmou que a postura do Executivo tem sido a de acompanhar as negociações entre a categoria e as empresas.
“Ao contrário de outras categorias, os rodoviários não são funcionários do GDF. Entendemos desde o início das negociações que esse é um debate que precisa ser feito entre patrões e empregados. […] O GDF tem se mantido em uma posição de neutralidade nessas negociações justamente por entender isso”, declarou.
Primeiro dia
Com a greve, as paradas de ônibus amanheceram lotadas. Policiais militares acompanharam a movimentação na garagem da Pioneira em Santa Maria, responsável por 200 mil passageiros de nove regiões. O DER liberou o trânsito de carros nas faixas exclusivas da EPTG e da EPNB até o meio-dia para diminuir os transtornos.
Com a paralisação, o movimento no Metrô foi maior do que o normal. A companhia colocou 24 trens entre 16h e 21h. O número máximo de composições é adotado entre 16h45 e 20h15.
Na volta para casa, ônibus e vans piratas eram as alternativas nas plataformas da rodoviária do Plano Piloto. No fim da tarde, o terminal estava cheio, mas o movimento era menor do que em dias normais. Veículos sem autorização, como ônibus e vans escolares, vans de fretamento e ônibus de empresas pequenas, se revezavam nas baias.
CPI
A Câmara Legislativa do DF instaurou no início deste mês uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a licitação que renovou a frota de ônibus no DF, em 2012. Nesta segunda, o grupo aprovou a convocação dos gestores dos contratos de concessão dos serviços para depoimento na próxima quinta-feira (11).
Os primeiros depoimentos serão tomados a partir das 9h. No dia 18 será ouvido o ex-presidente da comissão de licitação que resultou na renovação da frota do DF, o economista Galeano Furtado Monte.
Na reunião de segunda, o deputado Bispo Renato (PR), presidente da CPI, disse que a concorrência foi feita sem um projeto básico e que continha informações sigilosas. “A falta de projeto básico, que é um princípio básico da administração pública, deveria ter levado à anulação do processo licitatório desde o início”, disse.
Investigação
Relator da comissão, o deputado Raimundo Ribeiro (PSDB) disse no final do mês passado que seriam convocados o ex-secretário de Transporte e atual diretor da Adasa José Walter Vazquez. Ele é um dos citados na denúncia do Ministério Público que aponta suposto esquema de favorecimento na licitação de 2012.
O MP cita na ação o advogado Sacha Reck, que prestou consultoria para o GDF no projeto básico da licitação, em 2009, e no julgamento de recursos do próprio edital, em 2012, enquanto representava uma das empresas participantes da concorrência.
Se condenados, os envolvidos podem perder direitos políticos e terão que pagar multa de mais de R$ 1,4 milhão. O MP também pede a anulação completa da licitação caso o suposto esquema seja confirmado pela Justiça.
Em 24 de março do ano passado, o G1 mostrou que o órgão ministerial investigava um suposto esquema que favorecia empresas de transporte público ligadas a duas famílias – Constantino, que também controla a companhia aérea Gol, e Gulin, do Paraná.
Fonte: G1