Pitiman sem censura

pitimanDepois de ser preterido pelo PMDB nas reuniões e decisões importantes da legenda no âmbito do Distrito Federal, o deputado federal Luiz Pitiman tende a buscar novos horizontes se quiser continuar com seu projeto político em Brasília. Ele foi eleito deputado federal em 2010 com mais de 51 mil votos e, apesar de ser o único representante do partido na Câmara Federal, afirma que está sendo “apequenado” no âmbito do PMDB.

Em entrevista ao Jornal da Comunidade, Pitiman fala de sua relação conturbada com o PMDB e do constrangimento de ver censurados seus programas gravados para TV e rádio. Nas inserções, Pitiman critica o mau funcionamento da CEB, a má gestão pública da saúde e segurança e, principalmente, os gastos elevados com o Estádio Nacional Mané Garrincha. Ao não concordar com as prioridades da atual gestão do GDF, Pitiman começou a ser desprestigiado pelo PMDB que tem como seu expoente no DF, o presidente regional da sigla e também vice-governador, Tadeu Filippelli.

Pitiman acha que ainda é cedo para se falar em candidaturas, mas se compara com um “jogador no banco de reserva” que está pronto para entrar no jogo a qualquer tempo. Atual presidente da Frente Parlamentar Mista de Fortalecimento da Gestão Pública no Congresso Nacional, Pitiman defende a gestão pública eficiente. Dentro dessa perspectiva, o deputado tem lutado pela profissionalização das administrações regionais a fim de conferir maior autonomia e continuidade aos projetos das cidades-satélites. Confira a entrevista com o parlamentar do DF.

Com quais partidos o senhor tem conversado? Houve algum convite?
Como representante político da cidade, tenho conversado com os diversos segmentos, partidários, empresariais e comunitários. Inclusive, onde eu tentei conversar mais e primeiramente foi no meu partido, o PMDB. Infelizmente não encontrei espaço para o diálogo. O PMDB de Brasília está muito a reboque do PT e isso é ruim para o PMDB e, principalmente, para Brasília.

Mas o senhor foi convidado por algum partido?
Não acho que seja o momento de falar em convites. Tenho discutido pontos de convergência no que pensamos e desejamos para Brasília. Neste sentido, para a minha surpresa, são muitas as pessoas com boas intenções e bons projetos para nossa cidade.

Como está sua relação com seu partido, o PMDB?
Eu diria que muito desgastada, e que não é de hoje. Sempre contribuí com o PMDB, seja colaborando e coordenando candidaturas do partido até disputando eu mesmo uma eleição em 2010. No início de 2011, convidado pelo governador e pelo vice, que é presidente do meu partido, fui para a Secretaria de Obras para ajudar a tirar a cidade do caos. Peguei a cidade toda abandonada. Era buraco e mato para tudo quanto é lado. Obras paradas, até a Ponte JK, um de nossos principais símbolos, ameaçava desabar. Mas foi só este trabalho começar a ser destacado pela imprensa que acabei sendo sacrificado. Saí por divergências com o PT e a forma de gestão empreendida pelo partido. As frases usadas foram duras, inclusive que era o PT contra o Pitiman. Acho que hoje boa parte de Brasília entende e apoia a minha saída, quis ajudar e não deixaram. Mas meu partido não. Nem no momento da saída, nem hoje, recebi qualquer gesto de solidariedade do PMDB. Este foi o primeiro momento difícil dentro do PMDB.

Quais os outros?
Foram vários que se seguiram. Mas posso citar a escolha do diretório e da executiva regionais. Apesar de seu ser o único representante do partido na Câmara Federal, das 71 vagas no diretório me ofereceram apenas 3, e das 12 da executiva, apenas uma.

E que o senhor fez?
Obviamente, recusei. Eu e as pessoas que me apoiam consideramos uma afronta. O PMDB de Brasília não está sabendo valorizar o espaço que tem na Câmara Federal.

Bem, o mais recente e talvez mais grave choque do senhor com a direção regional do PMDB se deu agora na questão da censura à propaganda partidária que o senhor pretendia veicular. O que aconteceu?
Primeiramente, mais uma vez me senti discriminado, pois me cederam pouco mais de dez por cento das inserções a que o partido terá direito este semestre. Mas, de qualquer forma, gravei três comerciais com o que considero mais importante falar para os brasilienses. Infelizmente, os dirigentes locais do PMDB vetaram as gravações sob a canhestra alegação de que o espaço é para veicular apenas questões programáticas do partido. Como se mostrar as mazelas de um governo, a gestão pública eficiente não fosse uma bandeira a ser empunhada por um partido. Desculpa esfarrapada de quem não quer desagradar o chefe. Ao não permitir que um deputado federal, homem de partido se manifeste, retornamos ao período da ditadura, onde a censura e a mordaça eram uma constante.

O que diziam as propagandas?
Como disse antes, versavam sobre assuntos que incomodam o dia a dia do brasiliense, como os constantes apagões da CEB, o caos na saúde, o crescimento da violência e, principalmente, a nebulosa e interminável obra do Estádio de Brasília. O problema é que às vezes a verdade dói, e dói muito.

Antes de ser secretário de Obras de Agnelo, o senhor foi presidente da Novacap de Arruda. Tem algum arrependimento de alguma dessas missões?
De forma alguma, em ambas as oportunidades fui para contribuir, e dar o melhor de mim. No caso do governo Arruda, tenho orgulho de dizer que participei diretamente da execução de boa parte das duas mil obras daquele período. E que foi uma época de muita efervescência e intensidade de trabalho. Por onde passei não vi nada de errado. Pelo contrário, via a aceitação da população, o que se refletia nas pesquisas de opinião, que davam quase 80 por cento de aprovação para aquele governo.

Recentemente, inclusive, o ex-governador foi condenado pela Justiça pela execução da reforma do ginásio Nilson Nelson sem licitação. É uma coisa tão inusitada assim a realização de obras de forma emergencial, sem licitação?
De forma alguma, em muitos casos esse expediente se faz necessário. Este Governo tem feito centenas, claro que sempre tem que ser precedido de muito cuidado administrativo e jurídico. E neste caso específico do Ginásio Nilson Nelson, considero preocupante a sentença, visto que o processo sequer comprovou dano ao erário. Houve apenas a presunção de que, deliberadamente, se procurou formas de driblar a licitação. Com a experiência de quem já passou mais de uma vez pela administração pública, acho que decisões como essas criam insegurança jurídica e atingem todo administrador que tiver de assinar qualquer coisa. Em resumo, se isso virar regra, ninguém mais vai querer ser ordenador de despesas e, dessa forma, o Brasil pode parar.

Quais os planos para o futuro? O senhor pretende se candidatar à reeleição como deputado federal ou almeja uma candidatura ao governo?
Primeiramente, considero muito cedo para se falar em candidaturas. Agora, é inegável que Brasília clama por um governo mais efetivo, mas atuante. Um governo que realize e não fique apenas nos conchavos partidários. Entendo que temos que respeitar a legitimidade de candidaturas como a dos ex-governadores Joaquim Roriz que tanto fez e José Roberto Arruda. Ambos deixaram uma história de realizações no GDF. Arruda foi sacado do poder de forma abrupta, mas deixou uma marca muito forte de competência e agilidade. Temos ainda o vice-governador Tadeu Filippelli, presidente do meu partido, o PMDB, que tem feito um excelente trabalho no GDF. Podemos dizer que as áreas que estão efetivamente funcionando hoje no GDF são aquelas que têm o dedo do Filippelli. Temos ainda o desejo do próprio Agnelo e o Toninho, candidaturas legítimas e o jogo está apenas começando.

E o seu nome, onde entra nisso?
Eu só entrei para a política após consolidar minha vida familiar, empresarial e até social. Graças a Deus tenho uma situação bastante estável nessas três áreas e, diante da crise que Brasília viveu em 2010, resolvi apresentar meu nome para trabalhar por Brasília e retribuir um pouco do que a cidade me proporcionou. Sinto-me como um jogador de futebol que está no banco de reservas de um time com titulares aí jogando experientes como os que eu citei anteriormente. Mas sou disciplinado e estou pronto para atuar, caso seja necessário, chuteira, uniforme e preparado fisicamente, sinto isto até porque sempre é possível um ou mais desses titulares terem alguma contusão, por exemplo.

Seguindo essa sua linha de metáfora futebolística, caberia mais alguém nesse time?
Sim, com certeza, principalmente aqueles que, como eu, acreditaram que o caminho com o PT seria o melhor para Brasília e hoje veem a cidade abandonada, desesperançada, desorganizada e querem novamente ter esperança e orgulho da capital do Brasil.

E sobre o atual governo, qual a sua avaliação?
É bom lembrar que a composição multipartidária que resultou na eleição dos atuais quadros do GDF surgiu a partir da crise que se abateu sobre o DF no final de 2009 e se estendeu por todo o ano de 2010. Muitos do que acreditamos naquele novo caminho hoje estamos frustrados. Quadros importantes e históricos como os senadores Cristovam Buarque e Rodrigo Rollemberg, o deputado Reguffe e tantos outros que sonharam e tiveram participação decisiva naquela eleição e hoje não são ouvidos pelo GDF.

O que está faltando?
Falta definir prioridades, ter criatividade, falta agilidade, organização. Para ser mais exato, gestão pública eficiente. E isso se reflete no dia a dia da cidade e no sentimento de seus moradores, que hoje é de frustração e desesperança. Até aquele orgulho que tínhamos de morar na capital federal está desaparecendo. Orgulho de exemplos como as escolas parque, o trânsito organizado que nos levou a exemplo nacional com o respeito à faixa de pedestres, os jardins com suas flores, o sistema de saúde pública que era referência para toda uma região. E a cidade que antes era tida como o paraíso da tranquilidade hoje vive acuada com casos diários de sequestros-relâmpago, tem posto de combustível da Asa Sul que já foi assaltado seis vezes este ano. Tudo o que nos orgulhava, se perdeu e hoje, pela ineficiência do Estado, parece inatingível, irrecuperável.

No que o senhor, como presidente da Frente Parlamentar de Gestão Pública, pode contribuir para reverter este quadro?
Na medida do possível, já temos procurado nos articular com setores da sociedade organizada para debater o tema. Recentemente estive com o presidente da OAB discutindo uma ideia que já está na Lei Orgânica a mais de 19 anos faltando regulamentar, de procurar democratizar a escolha dos administradores regionais e termos os conselhos comunitários das administrações regionais. Hoje, infelizmente, as administrações regionais são feudos de políticos que as utilizam unicamente para seus interesses eleitorais. Esses políticos geralmente indicam para administrador uma pessoa mais incapaz que eles, justamente para que não lhes façam sombra e no futuro venham a disputar a mesma base eleitoral.

E isso atrapalha no funcionamento da máquina?
Com certeza. Afinal, a escolha acaba sendo meramente política. E isso se reflete em todo o quadro das administrações. Hoje, segundo dados do próprio governo, cerca de 95 por cento dos funcionários das administrações regionais são nomeações pessoais do governador indicado pelo “padrinho” da cidade. E toda vez que muda o administrador, mudam quase todos os debaixo. Águas Claras é um exemplo disto, somente neste governo já teve cinco administradores. Assim, os projetos quase nunca têm continuidade.

E qual é a ideia do senhor?
Precisamos profissionalizar as administrações regionais. Primeiro cumprindo o que está previsto na própria Lei Orgânica do DF que prevê a participação popular na escolha dos administradores regionais. Em seguida, devemos destinar parte da receita de cada uma dessas cidades para o próprio administrador gerir. Hoje, o administrador depende totalmente da boa vontade do governador e dos conchavos que acontecem entre o governo e os políticos de cada uma dessas localidades.

Fonte: Jornal da Comunidade

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