Da redação do Conectado ao Poder
Durante entrevista à rádio Atividade FM, Luciana Mendes destacou a importância de abordar relacionamentos abusivos desde a infância para combater a violência contra a mulher
Durante sua participação no programa “Rota Atividade”, transmitido pela rádio Atividade FM (107,1), a psicóloga e professora Luciana Mendes discutiu o tema da violência doméstica e feminicídio, destacando os aspectos psicológicos que levam à agressão contra mulheres. A entrevista foi conduzida pelo jornalista Sandro Gianelli, que questionou as motivações por trás de comportamentos violentos em relacionamentos abusivos.
A lógica do agressor e o feminicídio
Luciana Mendes explicou que, diferentemente de outros crimes, o feminicídio e a violência contra a mulher não seguem a lógica racional de “econometria” do crime, ou seja, o cálculo de riscos e benefícios que geralmente influencia a decisão de cometer delitos. Para o agressor de mulheres, a agressão está mais ligada a uma necessidade de destruir a pessoa com quem ele não consegue mais conviver. “Quando a gente fala de agressão à mulher, essa econometria não funciona, porque para ele essa agressão é como uma destruição daquela pessoa com a qual ele não consegue conviver”, destacou a psicóloga.
Mendes ainda enfatizou que o aumento das penas para crimes de feminicídio, por si só, não é uma medida suficiente para inibir esses atos. “O cara vai ter o gatilho e vai cometer o crime do mesmo jeito”, afirmou. Para ela, o combate à violência de gênero passa necessariamente por um processo educativo que deve começar na infância, com o objetivo de promover relacionamentos saudáveis e descontruir a ideia de que uma pessoa é propriedade da outra.
Ciclo do abuso e dependência emocional
Outro ponto central da entrevista foi a explicação sobre o ciclo do abuso, uma dinâmica frequentemente presente em relacionamentos abusivos. Luciana destacou que esse ciclo envolve momentos de tensão e agressão, seguidos por fases de “lua de mel”, em que o agressor tenta reconquistar a vítima com pedidos de desculpa e promessas de mudança. “Todo relacionamento abusivo funciona num ciclo: há uma fase de lua de mel, depois a tensão vai aumentando até que a agressão acontece. E então, o ciclo recomeça”, detalhou.
A psicóloga ressaltou que, em muitos casos, não é a dependência financeira que mantém a mulher no relacionamento abusivo, mas sim a destruição de sua autoestima e rede de apoio. “O abusador normal ele desconstrói as relações que a mulher tem, então ele destrói a autoestima dela, faz com que ela ache que não tem nenhum amigo ou que a família dela não se importa”, explicou Luciana, apontando que essa vulnerabilidade emocional dificulta ainda mais a saída dessas mulheres de relacionamentos violentos.
Educação emocional como prevenção
A resistência à frustração, segundo Mendes, é outro fator que contribui para a violência de gênero, especialmente entre homens. Ela observou que muitos agressores não sabem lidar com rejeições ou términos de relacionamento de forma madura, preferindo partir para a violência em vez de seguir adiante. “A resistência à frustração está quase zero. Eles não sabem tomar um ‘não’ e seguir em frente”, afirmou.
Luciana ressaltou que trabalhar a educação emocional desde a adolescência é fundamental para evitar que esses comportamentos violentos se desenvolvam. “Isso precisa ser trabalhado na adolescência. O que a gente percebe hoje em dia é que a resistência à frustração está muito baixa”, acrescentou a psicóloga, defendendo a importância de ensinar aos jovens a lidar com emoções e rejeições de maneira saudável.