Redes sociais subestimadas nas eleições

Milhares de paulistanos viraram a madrugada debatendo o mensalão no Facebook. O ministro Joaquim Barbosa era um dos mais citados.

Por que o mensalão não mudou o voto dos eleitores do PT ou dos indecisos em praças importantes, como São Paulo? Por que o assunto, tão explorado na mídia, às vésperas da eleição, com fotos em destaque dos réus condenados nas primeiras páginas dos jornais, não foi decisivo para dar vitória ao candidato do PSDB, José Serra? Mil teorias vão justificar o resultado favorável ao prefeito eleito, Fernando Haddad. Mas uma, com certeza, ajuda a explicar o fato. Milhares de paulistanos viraram madrugadas debatendo o mensalão na internet, elogiando o papel do ministro-relator do caso no STF, Joaquim Barbosa, e entrando em fóruns de discussões armados espontaneamente, para avaliar tudo o que estava acontecendo.

As tendências de cada juiz do STF, os esqueletos escondidos no armário do PSDB e do próprio PT, e a necessidade de admitir a prisão de dirigentes petistas foram ao júri popular virtual. Serristas e eleitores de Haddad travaram um embate feroz, que levou até os mais exaltados a romper amizades no mundo real. A mesma energia da rede foi percebida às vésperas do primeiro turno, no dia 7 de outubro, quando a unanimidade contrária a Celso Russomanno, invadiu a rede. Todos começaram a trocar notícias e dados sobre o candidato do PRB, e assim nasceu o movimento “xô, Russomanno!”, que se tornou realidade quando o então líder nas pesquisas despencou para o terceiro lugar no pleito.

A inconsistência de suas propostas foi dissecada até o último bit. E tem sido assim com qualquer pessoa pública, empresa, ou prestador de serviço. Nunca se viu uma arena tão segura, espontânea e ágil como as redes sociais, em particular o Facebook, para expressar a indignação e as opiniões sem censura, para um grande número de pessoas. Quarenta e quatro milhões de brasileiros, ou mais de 20% da população do País, navegam pela rede criada por Mark Zuckerberg. Trata-se de uma proporção maior que a do público total do Facebook no mundo – quase 1 bilhão de pessoas, ou 14% dos habitantes do planeta.

As redes já mostraram seu poder em diversos momentos. A primeira eleição de Barack Obama, em 2008, a Primavera Árabe que derrubou ditadores no Oriente Médio, no ano passado, e as greves na Europa contra os aumentos de impostos contaram com o papel decisivo das mídias sociais. E o que isso tem a dizer para as empresas e para as pessoas públicas que esperam tirar proveito das redes? O óbvio ululante, diria Nelson Rodrigues. Não haverá fatos nem argumentos contra a realidade. O poder da rede ainda é subestimado, e assim não se percebe que ali há um instrumento de pesquisa, e não apenas de persuasão por causas individuais.

A futurista Rosa Alegria, de São Paulo, explica que o século 21 e a tecnologia trouxeram a era da coerência entre o que se fala e o que se faz. Uma empresa ou um político que quiser ser ouvido não pode entender a rede como um campo a ser influenciado com banners e mensagens-padrão, pois para isso existe a televisão, que permite comerciais padronizados. Não, os usuários da rede se acostumaram a checar o que acontece no mundo diariamente, com ajuda de seus amigos e colegas, que trocam informações pelos “posts”. As redes são como uma amostra gratuita do que pensa, de verdade, seu potencial eleitor/consumidor. Simples assim. É disso que se trata a brincadeira. Basta ler o que seu público sente ou ambiciona, e haverá a esperada comunicação.

Fonte: Istoé Dinheiro

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