Traçando um perfil realista do eleitor médio

eleitorQuais fenômenos e circunstâncias sociais condicionam a decisão da mais significativa parcela do universo de votantes, aqueles que não nutrem qualquer interesse pelas ações políticas?

As pesquisas acadêmicas e eleitorais indicam sem margem para dúvida que o eleitor médio – aquele em condições de normalidade da vida social – atribui, dentre os seus principais interesses, baixa prioridade à política. Não mais do que 25 a 30% do eleitorado – em países desenvolvidos, como os EUA, a Inglaterra e a Alemanha – acompanham os fatos políticos regularmente – isto é, possuem um interesse auto-sustentado por assuntos políticos. Os outros 75% a 70% acompanham a política de vez em quando ou nunca. Já nos países com grandes contingentes de eleitores de baixo nível sócio-econômico, como é o caso do Brasil, esse estrato interessado em política é bem menor. A maioria dos eleitores, portanto, tem baixo interesse pela política, baixa informação, baixa adesão aos partidos e baixa participação e envolvimento em ações políticas, se desconsiderado o ato de votar, quando obrigatório, como um indicador de participação.

A educação dos filhos preocupa mais o eleitor do que a política
Tal fato, presente tanto em países ricos quanto nos em desenvolvimento, se deve à prioridade que os indivíduos atribuem aos demais aspectos de suas vidas – que lhes parecem mais importantes, mais gratificantes e mais fundamentais. Assim, questões relacionadas ao próprio indivíduo e a sua família – como trabalho, lazer, projetos para o futuro, preocupações com saúde e bem-estar, educação dos filhos e o mundo afetivo – são as que ocupam a maior parte de seu tempo útil. A política, além de não possuir a mesma relevância e prioridade, ocorre num mundo remoto do dia-a-dia do eleitor médio e está sempre envolta em questões controvertidas e complexas, raramente resultando em alguma alteração perceptível na sua vida.

Ela só entra na vida do eleitor quando ocorre um fato de grande impacto, que centraliza a atenção de todos mediante uma extensiva cobertura em todas as mídias – escândalos, morte de líderes políticos, crises institucionais e crises econômicas que afetam sua condição de vida. Fora destas situações, a política é um interesse marginal e secundário. A vida pessoal e familiar segue seu curso, enquanto a vida política acontece naquela outra esfera, remota, distante, pouco compreensível et pour cause, pouco relevante. Esta é a realidade. Ela está muito distante dos postulados teóricos, que supunham uma cidadania informada, interessada e atuante nas questões de interesse público numa democracia.
Fisgue o eleitor antes que ele lhe dê as costas

É bem verdade que na esfera local – o município – o interesse e a informação políticas são bem maiores que nos outros níveis. E é igualmente verdade que as eleições são momentos nos quais a política conquista um espaço maior na vida deste eleitor. Por outro lado, nesses colégios eleitorais menores, a política também sofre uma relativa descaracterização por se fundir, em grande parte, à dinâmica da vida social local. Obrigado legalmente a votar, cortejado pelos candidatos, bombardeado pela propaganda, envolvido no espetáculo e drama que cada eleição encena, o eleitor acaba abrindo um espaço no seu tempo para as questões políticas. Assim, sua publicidade deve ser pensada de forma a conquistar esse eleitor médio num único contato, sendo aconselhável que cada oportunidade singular seja encarada como se fosse a única, porque talvez seja… Como seus encontros com o eleitor serão breves, esporádicos e tangenciais, cada peça publicitária precisa fazer parte de um conjunto, mas também deve ser um produto acabado, no sentido de poder, individualmente, cativar, persuadir e atrair o eleitor para escolhê-lo.

É no julgamento do eleitor real que as decisões políticas maiores de uma nação estão entregues, já que ele constitui a maioria do eleitorado. Jamais subestime a inteligência desse eleitor. Ao fim da campanha, ele chegará a uma decisão pessoal de voto, processando as informações que lhe ofereceram e que ele próprio reuniu. Encare-o como um território a ser mapeado e conquistado. Dispa-se de seus preconceitos e procure entender como ele pensa, raciocina e julga. Não cometa o erro oposto e nunca superestime a quantidade de conhecimento e informação que ele possui. Esse território por conquistar detém muito pouca informação e escassos tempo e disposição para adquirí-la. O eleitor conhece pouco sobre os candidatos e menos ainda sobre suas idéias e propostas. Não obstante, é de milhares ou milhões de decisões individuais desse tipo que os rumos de uma sociedade são definidos.

A constatação dessa realidade significaria então a negação do princípio da soberania popular,do sufrágio universal e direto? Não. Seria esse eleitor despreparado e desqualificado para escolher pelo voto seus governantes? Não. Esse eleitor, embora não domine a quantidade e variedade de informações políticas que os mais interessados dominam, possui, assim mesmo, seus próprios mecanismos de captação, processamento e avaliação de informações, que lhe permite tomar uma decisão de voto racional.
O modelo da racionalidade de baixa informação

Professor Samuel Popkin estuda o comportamento dos eleitores
Tais mecanismos constituem o que na moderna Ciência Política o professor Samuel Popkin, em sua obra The Reasoning Voter, chamou de teoria da racionalidade de baixa informação. A partir de uma releitura dos acervos de estudos realizados pela Escola de Estudos Eleitorais da Universidade de Columbia, os do Centro de Estudos de Pesquisas Eleitorais da Universidade de Michigan, dos trabalhos da escola do modelo político de escolha racional e as teorias psicológicas no campo da cognição, Popkin inovou ao construir uma teoria original, com sólido embasamento empírico, sobre o comportamento eleitoral. É a tese mais atualizada sobre o paradoxo da democracia moderna: “funcionar adequadamente com uma cidadania pouco informada e pouco participativa”.

Não se trata, porém, de uma teoria abstrata, desconectada das preocupações da política prática. Muito ao contrário. É um arrazoado com aplicações práticas muito claras, na medida em que esclarece como funciona a mente do eleitor médio, bem como seu processo intelectual para orientar-se no mundo da política. A questão básica é, portanto, como e por que esse eleitor que atribui baixa prioridade à política adquire informações básicas sobre um assunto que pouco lhe interessa. Mais ainda, como tal eleitor, a partir dessa condição, logra alcançar aquela racionalidade de baixa informação para decidir seu voto.

Fonte: Política para Políticos

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