Por Sandro Gianelli

Ronaldo Caiado decidiu dar um passo ousado na corrida presidencial de 2026. Em entrevista ao “Roda Viva”, o governador goiano colocou o 8 de janeiro na conta de “excessos dos dois lados”. A declaração, longe de ser um desabafo despretensioso, é uma clara estratégia de discurso para se vender como o “equilibrado” entre Lula e Bolsonaro.
Ao dizer que sua primeira medida como presidente seria uma anistia ampla, geral e irrestrita, incluindo Jair Bolsonaro e os demais condenados pelos atos golpistas, Caiado sinaliza ao eleitorado bolsonarista que não pretende criminalizar o passado. Mas ao mesmo tempo, evita abraçar a tese do golpe, preferindo um meio-termo conveniente.
A fala sobre os “dois lados” remete a uma velha narrativa que tentou relativizar a ditadura militar, também citada por ele na mesma entrevista. Caiado tenta se equilibrar num fio tênue: é democrata demais para os radicais, mas conservador o suficiente para não assustar o centrão.
Esse reposicionamento revela mais do que uma opinião sobre o passado: é um recado para 2026. Caiado quer ser o candidato que encarna a pacificação nacional.
BOLSONARO NO PACOTE
A declaração de que a anistia incluiria Jair Bolsonaro não foi por acaso. Caiado mira diretamente no eleitorado fiel ao ex-presidente, tentando herdar seus votos caso Bolsonaro fique inelegível.
CONGRESSO ALHEIO
Segundo Caiado, a anistia não precisa passar pelo Congresso. Ele diz que é prerrogativa do Executivo, em clara provocação ao STF e aos parlamentares que defendem punição exemplar.
MANDATO NO STF
Caiado também defendeu que ministros do STF tenham mandato com tempo limitado, o que reduziria a “acomodação” e a “ampliação de poderes”. A proposta alinha-se ao discurso antiprivilégio.
DUREZA COM O CONGRESSO
Na mesma entrevista, criticou as emendas parlamentares e o que chamou de “Parlamento movido a Pix”. Reforçou a defesa de um presidencialismo forte e maior controle sobre o Orçamento.
MILITARES ABSOLVIDOS?
Ao relativizar o regime militar, Caiado abre margem para um discurso revisionista que agrada parte das Forças Armadas.
FRASE DO DIA
“Foi um período em que aconteceram barbaridades. Mas teve excessos dos dois lados.” — Ronaldo Caiado, sobre a ditadura militar
CURTAS
Centrão de olho
Lideranças do centrão começam a sondar Caiado como plano B se Bolsonaro não disputar.
Nordeste no radar
O lançamento da pré-candidatura de Caiado na Bahia não foi à toa: quer quebrar resistências no eleitorado nordestino.
Alívio em Goiás
Aliados em Goiás comemoram a repercussão nacional da entrevista. Caiado virou pauta.
Tese do medo
A equipe de campanha acredita que o discurso da pacificação pode conquistar eleitores exaustos da polarização.
SEM FILTRO
Caiado quer passar uma borracha na história recente em nome da pacificação do Brasil.