O Ministério Público do Distrito Federal ofereceu denúncia nesta terça-feira (20) contra 19 pessoas supostamente envolvidas no esquema conhecido como a “máfia das próteses”. Eles são suspeitos de integrarem uma organização criminosa formada por médicos e empresários que lucravam com a prescrição de cirurgias sem necessidade ou com materiais de qualidade inferior ao que era determinado.
Se a Justiça aceitar a denúncia, os suspeitos se tornam réus na ação. De acordo com a polícia e o MP, o esquema movimentou mais de R$ 30 milhões nos últimos cinco anos. Segundo as investigações, estima-se que cerca de 60 pacientes tenha sido lesados neste ano por apenas uma empresa suspeita de irregularidade.
De acordo com o inquérito, o esquema envolvendo cirurgias desnecessárias, superfaturamento de equipamentos, troca fraudulenta de próteses e uso de material vencido em pacientes é “milionário”. As pessoas e empresas citadas negam irregularidade.
Existem casos de cirurgias sabotadas para que o paciente seja continuamente operado, gerando lucro para o esquema, dizem os investigadores. Os médicos também supostamente destinaram produtos vencidos para os pacientes, trocando produtos mais caros por mais baratos. Na casa de um deles, foram encontrados R$ 51 mil. Em outras casas, foram achados R$ 100 mil, US$ 90 mil e cédulas em euros.
Ainda segundo a polícia, uma testemunha que tentou denunciar o esquema sofreu tentativa de homicídio. “Deixaram um fio-guia de 53 cm na jugular de uma paciente para matá-la.”
Escutas telefônicas obtidas pela Polícia Civil do Distrito Federal e reveladas pelo Fantástico mostram a conversa entre um médico e um fornecedor de órteses e próteses sobre como continuar “enrolando” um paciente e faturar mais.
A conversa é entre o médico Juliano Almeida e Silva e o empresário Micael Bezerra Alves, um dos sócios da TM Medical, empresa que fornecia as próteses. A companhia é suspeita de oferecer materiais superfaturados, vencidos ou de baixa qualidade.
Médico: Eu estou tentando melhorar aqui, entendeu? O que mais a gente pode colocar aqui?
Fornecedor: É…
Médico: O que mais a gente pode colocar aqui? Botei bipolar, botei brill, dois drill, botei mostático, botei motorização, equipo de ligação. O que mais?
Fornecedor: Essa cânola. O que que é? Debridação?
Médico: É a canolazinha que vem no kit da assectomia. Aí é só para enrolar mesmo.
Os dois fazem parte do grupo de 13 pessoas presas na operação, que também apreendeu R$ 220 mil e US$ 90 mil, no dia 1º de setembro. “Os áudios vão mostrando que os médicos têm um profundo envolvimento e um desejo sempre de ganhar dinheiro”, disse o promotor Maurício Miranda sobre as escutas.
De acordo com as investigações, os médicos envolvidos no esquema encaminhavam os pacientes para fazer as cirurgias principalmente no hospital Home, na Asa Sul. Um dos funcionários, Antônio Márcio Catingueiro Cruz, fazia contato com um representante da fornecedora, Micael Alves. Segundo a polícia, o dinheiro pago pelos planos de saúde era dividido entre o grupo.
Após uma série de denúncias divulgadas pelo Fantástico desde janeiro de 2015, os suspeitos foram obrigados a mudar de estratégia, diz a polícia. “A partir de então, passaram a utilizar o pagamento em espécie para tentar de alguma forma evitar o rastreamento”, contou o delegado que investiga o caso, Adriano Valente.
Próteses e órteses
Próteses são dispositivos usados para substituir total ou parcialmente um membro, órgão ou tecido. Órteses são utilizadas para auxiliar as funções de um membro, órgão ou tecido do corpo. De uso temporário ou permanente, as órteses evitam deformidades ou o avanço de uma deficiência médica. Um marca-passo, por exemplo, é considerado uma órtese implantada.
Fonte: G1