O Ministério Público do Distrito Federal abriu uma investigação para apurar se a água do condomínio Paranoá Parque, construído por meio do programa Morar Bem, no Distrito Federal, causa enfermidades nos moradores do local. Laudo encomendado pelos moradores apontou contaminação da água por coliformes fecais.
O teste foi pedido a um laboratório no início de maio devido ao alto índice de adultos e crianças doentes após consumo de água dos poços artesianos do condomínio. Os moradores relatam a ocorrência de dores abdominais, alergias e manchas vermelhas na pele.
O Paranoá Parque é um condmínio voltado a pessoas com renda de até R$ 1,6 mil mensais. No momento, 1.856 apartamentos dos 6.240 previstos estão ocupados. A construção do conjunto custou R$ 358 milhões, e as obras contratadas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional (Codhab) ficaram a cargo da Direcional Engenharia.
O G1 pediu cópias dos laudos feitos pela empresa, mas a Direcional não os forneceu. A construtora também não falou qual a empresa responsável pela verificação nem que tipos de
testes são aplicados.
Apesar do laudo encomendado pelos moradores, o promotor responsável pelo caso, Jairo Bisol, disse que o documento não tem validade técnica porque não aponta com precisão de onde a amostra foi coletada. Os moradores discutem a contratação de uma contraprova.
Paranoá Parque aponta que água tem coliformes
fecais (Foto: Reprodução)
O promotor diz que a questão deve ser resolvida pela Vigilância Sanitária. “Isso é a Vigilância quem tem de ver e monitorar. Um laudo com coletas dela não acusou nada de errado, mas isso não a isenta. A água pode estar afetando a vida de mais de 4 mil pessoas. Alguma coisa tem lá no Paranoá Parque. Pode até não ser a água, pode ser outra coisa também, mas tem de chegar às causas disso tudo.”
O promotor abriu uma investigação paralela para aprofundar o caso. “Tive de fazer isso já que não houve resultados positivos até o momento. Por exemplo, pedi para a regional de saúde ver se tem mais casos parecidos de sintomas aparecendo no Hospital Regional do Paranoá de moradores de outros lugares.”
A Vigilância Sanitária informou que orientou o responsável técnico sobre os procedimentos para o fornecimento correto da água e que não há notificações dos mesmos problemas em outras regiões do DF. Se a água não for a causadora das alergias, apenas com um diagnóstico clínico, realizado por um médico, será possível saber o motivo do problema, informou.
‘Água estranha’
O bombeiro e morador do Paranoá Parque Sérgio Damasceno afirma que a água que sai das torneiras tem “cor de ferrugem”. “As pessoas começaram a passar mal e sempre desconfiamos da cor da água. Então, contratamos uma empresa e ainda a levamos para estudantes de química. Ambos falaram que ela estava contaminada, enquanto a Direcional fala que é limpa.”
Foto: Fábio Marques/Arquivo Pessoal)
O técnico de informática Fábio Marques relata que a água nunca foi “bem vista” pelos moradores. “Tem gosto ruim e fede. No chuveiro sai até amarela, com cor de ferrugem. Depois que colocaram cloro, numa tentativa de melhorar, idosos tiveram coceira e pessoas ficaram com a garganta toda inchada. Meu sobrinho ficou cheio de ‘pereba’ no rosto. Enquanto isso, a Direcional sempre negou o problema.”
A aplicadora de películas Patrícia da Silva mora no Paranoá Parque desde novembro do ano passado e diz preferir comprar água mineral. “Nunca passei mal porque compro galão e garrafas. Gasto uns R$ 50 todo mês. Não gosto dessa água que chega para a gente. Só uso ela para tomar banho e lavar roupa. Mesmo assim, de vez em quando as roupas saem manchadas, não ficam brancas. No mínimo deveriam dar condições para a gente morar. Acho que tiveram muita pressa em entregar logo [os imóveis] com o fim da campanha para governador.”
Liberação da Codhab
A Codhab, executora do programa Morar Bem, disse que “não tem obrigação nem condições” de checar a qualidade da água no empreendimento antes de ele ser liberado, mas que os poços do local outorgados pela Adasa foram autorizados para o consumo humano e a água passa por uma Unidade de Tratamento Simplificado, administrado pela Direcional.
A companhia disse que a responsabilidade pela água é da Caesb e da Direcional, com os quais se reuniu para tratar da questão. A Caesb afirmou que não tem responsabilidade pela água no condomínio e que, quando solicitada, deu ajuda técnica e apresentou soluções para a Direcional.
Segundo a Codhab, a construtora informou que vai contratar outra empresa para analisar a água, pois a verificação mensal “não é suficiente para perceber alguma falha de forma imediata no sistema operacional” e que já “flagrou pessoas dentro dos próprios reservatórios tendo contato direto com a água a ser distribuída à população”.
A Direcional protocolou a intenção de passar o fornecimento para o governo no último dia 2 de março, o que é permitido pela lei, de acordo com a Codhab. Porém, antes da transferência, a construtora precisa assegurar que a água é própria para consumo.
Fonte: G1