Em um dia mais difícil para o Palácio do Planalto do que o enfrentado na primeira denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o presidente Michel Temer se livrou mais uma vez de um processo de investigação. Com o apoio de menos da metade dos deputados — 251 votos favoráveis ao arquivamento, 233 contrários, 25 ausências e 2 abstenções —, o peemedebista se mantém no governo.
A rebeldia de parte dos aliados dificultou a vida do presidente, que chegou a se sentir mal ontem com uma obstrução urinária e passou a maior parte do dia internado no hospital (leia mais na página 4). Diferentemente da última denúncia, quando o quórum para a votação foi atingido no início da tarde, parte da base se uniu à estratégia da oposição de não marcar presença. A intenção era pressionar o presidente até o último minuto para ter demandas atendidas. Alguns foram flagrados ao telefone em plenário esperando a confirmação de pedidos para registrar presença. “Essa será a sessão mais cara da história”, comentou um governista que ligava aos ausentes dizendo: “Cadê você? Estou com saudades!”.
O número necessário para iniciar a votação foi atingido depois das 16h, após ameaça do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de encerrar a sessão. A partir daí, foram mais cinco horas de debates e votos nominais sobre relatório do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG). Apesar da derrota, a oposição comemorou o placar com menos apoio a Temer e mais ausências. O número de votos da base não chegou à maioria absoluta da Câmara (257) — quantidade necessária até para abrir votações, aprovar leis complementares e decretos legislativos. Em agosto, quando o governo conseguiu enterrar a acusação por corrupção passiva, o placar foi de 263 votos e 19 ausências.
Mesmo com a derrota, a oposição enxergou o placar como um reflexo de fraqueza. “Essa fragilidade deixa o governo refém de sua base fisiológica, que se alimenta deste vício”, analisa o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ). Já na visão de Darcísio Perondi (PMDB-RS), um dos líderes da base aliada na Casa, a sessão confirma a vitória de uma base aliada consciente. “Agora, Michel Temer vai continuar com tranquilidade a reconstrução do país”, disse.
A visão, contudo, não parecia estar no discurso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em entrevista ao fim da sessão, Maia afirmou que o momento é de reparação de danos. “O poder Executivo sempre tem força. Agora é impossível pensar que, depois de duas denúncias, o governo não tenha que avaliar os resultados, os últimos meses e repensar de que forma consegue restabelecer sua maioria. Claro que há um desgaste, mas a melhor resposta é a gente continuar trabalhando.” Maia falou muito sobre a intenção de tocar a agenda econômica do país a partir da próxima semana.
Controvérsias
Antes do meio-dia, o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou que a Polícia Legislativa retirasse do corredor da taquigrafia um painel montado pela oposição com as fotos de cada parlamentar e o provável voto em plenário. A decisão foi considerada arbitrária por deputados que protestaram para evitar a retirada do objeto que, diante da resistência, permaneceu onde estava.
Fonte: CB