Acabou junho, mas…

Nani Blanco, diretora da agência Nuvem e Idealizadora do Seminário Reboot.

Começa agora o verdadeiro desafio para os profissionais de comunicação política no Brasil: a corrida eleitoral pelos 5.565 municípios. Em um cenário cada vez mais complexo, como os candidatos podem se destacar em meio à polarização e às novas dinâmicas sociais? Ontem, li o primeiro artigo em português do consultor espanhol Antoni Gutiérrez-Rubí, que tive a honra de conhecer pessoalmente na edição deste ano do seminário Reboot. Em seu artigo, ele discute que, hoje, as pessoas votam mais por convicções do que por interesses, questionando a relevância da famosa frase de James Carville, “é a economia, estúpido”.

Ao longo dos primeiros seis meses de 2024, participei de diversos eventos de comunicação política, fui observadora internacional das eleições no México e mergulhei em livros sobre as novas tendências na comunicação política. Uma coisa é certa: sim, o voto é por convicção. E como nós, consultores políticos, vamos encarar essa jornada eleitoral até o dia 6 de outubro?

Primeiramente, a publicidade tradicional está se tornando cada vez mais ineficiente. Mesmo que um candidato tenha mais recursos financeiros, o uso de tráfego pago será pouco útil sem uma mensagem clara e uma estratégia sólida. Marcello Natale já dizia que o essencial do tráfego pago é escolher com quem você fala. O cenário atual requer uma compreensão profunda do eleitorado e uma comunicação autêntica.

Além disso, vivemos em bolhas sociais quase literais. Dados indicam que 84% das pessoas que seguimos nas redes sociais compartilham crenças semelhantes às nossas. Isso significa que é muito provável que votem de maneira muito similar. Esse fenômeno torna cada vez mais difícil para os candidatos penetrarem nessas bolhas e alcançarem novos públicos.

Outro ponto crucial é que os eleitores estão decidindo seus votos cada vez mais tarde. Especialmente em eleições municipais, como as de prefeito e vereador, uma porcentagem significativa da população, entre 15% e 17%, decide seu voto no dia da eleição. Quem nunca? Isso enfatiza a importância de campanhas intensivas nos dias e semanas que antecedem a eleição.

A volatilidade do voto também não pode ser ignorada. Cada vez mais, mudar de voto se torna um processo mais simples, especialmente para as gerações mais novas. Isso pode sugerir que as campanhas devam ser flexíveis e prontas para adaptar suas mensagens rapidamente em resposta a mudanças no ambiente político e nas percepções dos eleitores.

Outro aspecto fundamental é o papel do contato direto. A última eleição de prefeitos e vereadores, em 2020, foi marcada por uma campanha dominada por lives, zoom e carreatas devido às medidas de prevenção à COVID-19. Agora, o contato será um grande ativo para os candidatos e candidatas nos próximos quatro meses. Por isso usem e abusem dele.

O desafio final será equilibrar a diferenciação com o senso de pertencimento. Candidatos e candidatas precisam se destacar, sendo “diferentes dos iguais”, como já dizia Wesley Safadão, enquanto também transferem um senso de pertencimento para seus eleitores. Em outras palavras, se a nossa estratégia de comunicação não gerar conversa, o candidato simplesmente não existe.

Alea jacta est – “a sorte foi lançada” – Cada eleição traz seus próprios desafios, e certeza que conseguiremos lidar com esses desafios. Que esta eleição seja de muitos aprendizados para todos nós na comunicação política. Finalmente, podemos dar o start no ano em que estávamos doido pra começar. Que venham as eleições!

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