O secretário Georges Michel Sobrinho tem 71 anos e nasceu em Goiânia (GO). Juntamente com o ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, e outras lideranças políticas, é signatário da Carta de Lisboa, documento base de fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Na época da ditadura, viveu exilado no Chile (1970-1973), na Colômbia (1973-1974), na Alemanha Oriental (1974-1977) e em Portugal (1977-1979).
Com a Lei da Anistia, voltou para o Brasil em 1979. Chefiou a Representação do Governo do Estado do Rio de Janeiro em Brasília durante 1983-1987 e 1991-1994. É jornalista e exerce a função de chefe de gabinete da Liderança do PDT no Senado (1994-2014). Já presidiu o PDT-DF quatro vezes e é o atual presidente da legenda no DF.
Em entrevistas ao jornal Alô Brasília, o secretário falou sobre os seus principais projetos à frente do órgão, sobre a Lei de Terceirização e como será o diálogo da Secretaria com as empresas e os trabalhadores.
ENTREVISTA
Qual balanço que o senhor faz desses primeiros meses à frente da Secretaria? E quais os principais objetivos daqui para frente?
Todos conhecemos a crise que passa o GDF neste novo governo. A crise econômica teve uma mudança geral na postura não apenas dos servidores e secretários, como (também) do governo. É um governo novo, com propostas novas e dentro deste governo, o nosso partido está inserido. Eu assumi a secretaria para realizar um trabalho que pudesse gerar mais emprego, oportunidades e que eu pudesse qualificar o trabalhador, porque Brasília, hoje, tem 12,3% de desempregados, e essas pessoas não conseguem emprego. Primeiro por falta de oportunidades, no sentido de que as empresas em Brasília, com a crise econômica que existe, estão desempregando. E o segundo fato é que tem muitos poucos trabalhadores qualificados para a maioria dos cargos. Nesse sentido, nós estamos tratando essa qualificação para que os trabalhadores tenham oportunidade de voltar ao mercado. Nisso estamos realizando convênios com o Ministério do Trabalho, com o Instituto Federal de Brasília com o objetivo de criar vagas para esse trabalhador poder se qualificar. Por outro lado, existe também aqui o microcrédito, que chamamos de banco do povo. Nós estamos fazendo um trabalho no sentido de formar cooperativas para que essas pessoas desempregadas e sem oportunidades, mas com espírito empreendedor, consigam uma recolocação. Nós vamos possibilitar que grupos desses pequenos empreendedores formem cooperativas em várias setores. Eles que irão escolher o que querem fazer. A partir do dia 16 de maio nós vamos lançar o microcrédito na feira de agricultores que vai acontecer aqui no DF. Nosso microcrédito, além de financiar pequenos empresários e cooperativas, financia também microagricultores. Isso é muito importante porque a grande parte dos desempregados que existe nas grandes cidades vem do campo porque não há mais oportunidades nesses espaços, devido à mecanização do campo, e acabam vindo para as grandes cidades para tornar-se pedreiro ou pequeno agricultor. E nós vamos financiar a pequena agricultura e setores agrícolas em pequenos agricultores.
Como estão os projetos da Secretaria para a qualificação desse trabalho?
A qualificação depende do governo federal e nós estávamos esperando a sanção do orçamento que saiu dia 15 e, a partir dai, nós já estamos juntos ao Ministério do Trabalho buscando convênios para essa qualificação e a Secretaria também é responsável pela Fábrica Social. A Fábrica Social está localizada entre a Cidade do Automóvel e a Estrutural e qualifica mulheres oriundas do Programa Bolsa Família. Existem atualmente neste local cerca de 1,4 mil mulheres se qualificando em costura e confecção e elas fornecem uniformes, bonés, redes, entre outros produtos, para a rede pública de ensino do DF. Toda essa produção é elaborada pelas trabalhadoras em fase de qualificação. A Fábrica Social é realmente uma indústria e funciona como tal. Essas mulheres, uma vez terminado o curso, nós temos como objetivo dar a elas a oportunidade de formar cooperativas para continuar no setor de confecção fora da Fábrica. Esse é um projeto social importantíssimo que, além de qualificar as mulheres acaba por entregar uniformes e bolas para as escolas públicas do DF. Nós vamos também continuar realizando, a partir do mês de maio, os multirões que vão estar nas áreas carentes, como Sol Nascente, Fercal e outras cidades para oferecer aos trabalhadores inscrições em cursos de qualificação, microcrédito, serviços de seguro desemprego e outras assistências que podem ser necessárias para os trabalhadores.
Qual a visão da Secretaria em relação à questão do primeiro emprego?
Estamos em estudos sobre programas para o jovem. Esse processo de integrá-lo no mercado de trabalho vem através da qualificação e eu não vejo outra maneira. E nós vamos ter agências do empregador e vamos solicitar aos empresários que façam um banco de emprego e nos ofereçam para que nós possamos qualificar as pessoas de acordo com o que essas empresas precisem. A missão da Secretaria não é só conseguir emprego, mas sim melhorar a vida do trabalhador.
Qual a visão da Secretaria sobre à tramitação sobre da Lei da Terceirização, no Congresso Nacional?
A Lei da Terceirização, do jeito que está sendo proposta, vai prejudicar o trabalhador pois tirará dele muitos direitos, enquanto que as empresas terceirizadoras não terão nenhum compromisso com o empregado em si, só tendo olhos para o seu lucro. O trabalhador vai ficar na mão desses patrões que vão pagar o que quiser e cobrar o quanto puderem. Esses direitos dos trabalhadores foram criados pelo velho Getúlio, que é considerado o homem que organizou o Estado brasileiro, vindo da Revolução de 30 e acabando com a República Velha, criando o Estado Novo. Ele revolucionou esse país e trouxe os direitos para os trabalhadores que a Europa (também), até hoje, possui. Essa lei está sendo feita para tirar esses direitos conquistados pelos trabalhadores sem que os mesmos possam perceber. Isso é um grande retrocesso. Se ela não for modificada no Senado, será um retrocesso imenso para o trabalhador no Brasil.
O empresariado do Distrito Federal pode encontrar algum apoio da Secretaria na busca de expandir suas atividades e gerar emprego?
Nós queremos trabalhar não só com os sindicatos, federações de trabalhadores e representantes dos trabalhadores, como também com os empregadores pois são eles que vão dar oportunidades de trabalho e vão possibilitar o emprego para as pessoas. Por isso nós queremos abrir a Secretaria para os empregadores e trabalhar em conjunto com eles. Nós estamos mantendo contato com as federações do comércio e da indústria justamente para saber as demandas, para que o trabalhador possa, quando for trabalhar nessas empresas, ser um empregado que satisfaça às necessidades desse empresário.
O mercado de Trabalho no DF tem uma forte concentração no Plano Piloto. É possível descentralizar esse mercado levando-o para as regiões administrativas?
Isso não compete à Secretaria do Trabalho e do Empreendedorismo e sim à Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Nesse sentido, temos conversado muitas vezes com o secretário Arthur Bernardes, que está a frente da pasta. Nós temos que levar pequenas fábricas, não poluentes, para as cidades e principalmente para o Polo JK, perto de Valparaíso, pois não podemos concentrar o emprego apenas no Plano Piloto. Taguatinga é uma grande cidade comercial e o Plano Piloto concentra mais servidores públicos e relacionados ao setor de prestação de serviços. Estamos buscando união com outras secretarias da área de empreendedorismo, como a de Desenvolvimento Econômico e de Mobilidade Urbano, para tratar sobre essas questões. As comemorações do Dia do Trabalhador, 1º de maio, por exemplo, não iremos fazer no Plano Piloto, pois não é onde a maioria dos trabalhadores moram. Precisamos privilegiar outros os lugares onde eles vivem. Neste ano, será na Praça do Cidadão, em Ceilândia Norte.
Como o trabalhador que quer se qualificar pode acionar a Secretaria?
Através do Site da Secretaria (www.trabalho.df.gov.br). Lá tem uma área onde ele pode buscar oportunidades ou então nas 17 Agências do Trabalhador que estão espalhadas nas cidades do DF. Tudo é controlado diretamente aqui da minha sala, onde eu tenho uma tela que posso averiguar todos os postos de atendimento. Esse monitoramento ajudou muito. Para se ter uma ideia, no governo anterior, para se tirar o seguro desemprego demorava cerca de uma hora, e no nosso, através de pedidos e técnicos que enviamos ao Dataprev, reduzimos esse tempo para quinze minutos. Antes as agências ficavam lotadas em virtude dessa demora. Agora a espera é de somente quinze minutos.
Fonte: Jornal Alô Brasília